sexta-feira, junho 10, 2011

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terça-feira, junho 07, 2011

O famoso miudinho

Longa metragem Elza Soares A Voz do Brasil (título provisório) - filme em produção - Participe!

Assim, cabe registrar a música que transcende sua alma, ou melhor, a música que é a própria alma, mostrando a artista completa e que permite completa-se a cada momento. A voz de Elza Soares, sua relação com o corpo, com a família, sociedade, artistas parceiros, produtores de arte, mídia, amores, sexualidade, futuro e presente interessa.

Em meados de agosto de 2008, em Belo Horizonte, em uma conversa comigo, Elza Soares dispara: “Só não doei minha alma. Mas, eu estou viva, me doando e muito”. Ela confessa, ainda, que quer fazer uma foto nua, na posição fetal – é  isto: monstrar a capacidade de Elza Soares em rever suas origens, sua autoestima, seu estado consciente das coisas e do mundo em que vive, o apego à vida, a devoção ao novo, o desejo em vencer, a vida que se confunde com a arte e a arte que se confunde com a vida.

A partir de comentários tecidos por ela, vão sendo criadas cenas como esta em que ela sente-se um feto, nascendo novamente, renovando, “sem tempo, sem datas”, como afirma. Ao mesmo tempo, a posição fetal como simbologia pela busca de proteção, de conforto etc.

A ideia é reproduzir no filme cenas como a do espelho, Elza frente à Elza - deixando fluir conversas dela com ela mesma, espontâneas, com revelação do subconsciente e o do superego da cantora narrado por ela mesmo- frente a imagens poéticas, junto à harmonia musical, verdade, ficção - os devaneios e as fantasias... a vida como é.

A trilha sonora é ela, o dia a dia das música brasileira,  cantos e ritos do dia a dia das ruas.  O cotidiano da vida da cantora, bem como seu potencial de tecer comentários sobre vários assuntos, seu modo de falar, suas opiniões funcionam no filme como dispositivo para a criação do roteiro que não nasce pronto.

As músicas,  interpretadas e/ou compostas por Elza Soares dão ritmo aos trabalhos. Elza é sujeito. Ela é a obra.

Vozinstrumentos no palco e na vida.  Elza Soares, a protagonista da realidade, dela mesma, da  ficção revisitada pelas artes.

Elza Soares é dócil e nem um pouco é dúctil. É comum vê-la acariciando alguém a cumprimentar, principalmente com o público e as pessoas que a cercam no dia adia. Enquanto fala com a pessoa e as outras em sua volta, ela costuma fazer carinhos, alisar lentamente, pequenos toques, sem que isso seja o foco da sua atenção, ou da pessoa acariciada ou dos outros em sua volta. Em compensação não pise no seu calo. Mulher sem meias palavras, Elza Soares tem opiniões formadas por suas experiências, critica o que julga ser injusto tanto na vida, quanto no campo da arte.

Esta história todo mundo já conhece: Ary pergunta a ELza Saores: “de que planeta você veio?"

Elza continua: ... “Eu cantei ‘Lama’, mas eu não me lembro os nomes dos autores. E tinha um neguinho que ficava segurando um pau para soar o gongo. Então eu disse ao Ary para ele tirar aquele neguinho com aquele pau na mão porque ele não iria precisar usar aquilo, ele não iria me gongar. Aí comecei a cantar mas, na metade da música, eu me lembrei do que eu aprendi a fazer com a lata d'água (cantando com a voz roca e arranhada). E cantei a música inteira assim. O auditório, que a princípio estava rindo muito, parou. Ficaram quietos e depois começaram a aplaudir. Foi a primeira vez que eu senti uma sensação de ódio... Eu terminei de cantar deitada no peito do Ary Barroso. Ele não resistiu e me abraçou. Então ele disse, "Senhoras e senhores, neste exato momento acaba de nascer uma estrela".

Ary Barroso estava certo: Elza é uma estrela.

Elza Soares, conta: "você imagina a minha inocência, eu fiquei olhando pra cima pra ver onde estava nascendo a tal da estrela. (risadas) Eu até queria perguntar pra ele de que estrela ele estava falando, mas eu estava chorando, me desmanchando em lágrimas. Então eu ganhei nota cinco, que era o máximo. Andei de táxi pela primeira vez na minha vida ainda deu para pagar na outra quarta-feira”.


Elza Soares veio do mesmo planeta que Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Sammy Davis -o da arte.

Em 1960, pela Odeon, Elza Soares cantou Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), alcançando logo grande sucesso. Esse samba fez parte de seu primeiro LP, com o mesmo titulo da música.

 Elza Soares morou na Argentina, Los Angeles, NY, França e Itália.

Elza Soares gosta de comer inhame pequeninho no liquidificador com contas de limão, sem água. No entanto, nunca esqueçamos a feijoada. Salve a Mocidade, Salve Jorge, Iansã, as águas, o vento, o sol, o fogo, salve Elza Soares, nossa  'prima-donna' neste trabalho.


A relação de Elza Soares com o mundo é intensa, ela parece perceber. ”hoje todo mundo quer falar a língua de todo mundo e acaba que não fala com ninguém”.

Elza Soares sempre lutou contra os preconceitos. 'Ela encara a senzala de frente porque sabe que é livre', como escreveu o publicitário, Fábio Chubes.


Criativa, talentosa, perfumada, maquiada e produzida sempre, Elza Soares é  música, uma artista, uma diva ousada e corajosa que no palco inflama a todos.


As mãos da cantora parece em cena no palco, às vezes, fazer os movimentos de um maestro ao reger uma orquestra. É possível vê-la no final de algumas músicas – principalmente, aquelas em que , improvisa - dar um arremate musical fechando o punho direito, erguendo a mão para cima depois para baixo forte e “oul”. Gestos, como este, captados demostram a experiente em gravações de discos e, principalmente shows ao vivo da personagem.

Garrinha, Chico Buarque e Elza Soares – futebol e música. Elza conta que conheceu Mané se preparando para a Copa do Mundo de 1962, antes da Copa do Chile. Ela já disse: “Ele me foi apresentado pelo Dr. Lívio Toledo e pelo Newton Santos. Eles foram à minha casa e pediram que eu fizesse uma campanha para que o Mané ganhasse um carro como o jogador do ano".

Assim, os pés de Elza Soares são enredo. Imagine, a voz, o instrumento, a música, os pés, a alma, o canto, a música que conduz. Salve, seu famoso passo, Elza Soares -  chamado, cariosamente,  por Chico Buarque de “miudinho”. Salve Elza Soares. Elizabete Martins Campos

NOTAS:

“A percepção da imagem da música assim como dos quadros” ¹ Eisenstein, Sergei, O Sentido do Filme – pág. 56